Rainha da Dinamarca conhece tecnologias para produção sustentável no Cerrado
A rainha Mary da Dinamarca visitou a Embrapa Cerrados na última sexta-feira (4), na companhia do ministro dinamarquês do Clima, Energia e Serviços Públicos, Lars Aagaard. À rainha foram apresentadas tecnologias da Embrapa Cerrados que permitem o estabelecimento de uma agricultura mais sustentável.
O foco da visita é fortalecer a cooperação entre os dois países e aprofundar o relacionamento em sustentabilidade, biodiversidade e clima, temas comuns e prioritários para o Brasil e a Dinamarca.
Juntamente com a presidente da Embrapa, Silvia Massruhá, e o chefe-geral da Embrapa Cerrados, Sebastião Pedro, a rainha plantou um ipê-amarelo, árvore de ocorrência no Cerrado brasileiro e marcante na paisagem de Brasília, para simbolizar esses interesses comuns.
“É uma linda árvore que eu espero que floresça aqui, como um capítulo da empresa [Embrapa] que está criando diferentes pesquisas e um novo conhecimento, olhando para a natureza como solução para um dos maiores desafios que o mundo está enfrentando, a crise climática”, afirmou Mary.
Sebastião Pedro confirmou a intenção da Embrapa a partir desse ato: “Esta planta aqui, que logo florescerá, nos lembrará constantemente, ao longo das próximas décadas, dos compromissos que assumimos para a construção de uma agricultura mais sustentável, capaz de conciliar nossas demandas alimentares e energéticas atuais, ao mesmo tempo em que deixa, como legado, um futuro no qual ainda seja possível a vida, com qualidade, de todas as espécies, incluindo a nossa”.
Para a presidente da Embrapa, essa foi uma grande oportunidade para mostrar à comitiva dinamarquesa que o Brasil tem desenvolvido tecnologias para uma agricultura tropical sustentável: “Aqui, nessa área de ILPF [Integração Lavoura-Pecuária-Floresta], podemos mostrar como estamos avançando cada vez mais para aumentar nossa produção e produtividade e, ao mesmo tempo, preservar os recursos naturais.
Massruhá lembrou que um dos desafios da Embrapa é garantir a segurança alimentar do Brasil com base em práticas sustentáveis e ajudar o mundo na missão de alimentar a população mundial, que deverá chegar a 9 bilhões de habitantes em 2050, segundo projeção das Organizações das Nações Unidas (ONU).
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Tecnologias com foco na sustentabilidade
A Bioanálise do Solo (BioAS) foi a primeira tecnologia apresentada à rainha dinamarquesa. Inovadora, ela agrega o componente biológico às análises de solo já realizadas pelos produtores rurais. O Brasil é o primeiro país do mundo onde o agricultor, ao enviar uma amostra do solo para o laboratório, pode saber, além das informações das características químicas, como está o funcionamento biológico do solo. “A BioAS é como um exame de sangue do solo. Com os resultados, o produtor pode identificar problemas de saúde que ainda não apresentaram sintomas”, explicou a pesquisadora Ieda Mendes.
Solos saudáveis são mais produtivos e permitem que as lavouras sejam mais resilientes a eventos climáticos como veranicos. Além disso, são mais eficientes no uso de adubos e de defensivos agrícolas e produzem grãos com melhor qualidade nutricional. Lançada em 2020, já foram realizadas mais de 42 mil análises em todas as regiões do Brasil, compondo um banco de dados inédito e essencial para entender a saúde dos solos brasileiros.
Na Vitrine de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, o pesquisador Roberto Guimarães informou à comitiva sobre a tecnologia que permite combinar diferentes cultivos em uma mesma área. Essa estratégia de produção permite que o Brasil duplique a produção de grãos e de carne sem desmatar novas áreas para produção, já que o produtor pode ter três ou mais colheitas em uma única safra, por exemplo, grãos da safra principal e da safrinha, pasto para produção de carne ou leite e frutas ou madeira das árvores.
Hoje, no Brasil, mais de 17 milhões de hectares têm produção em sistemas integrados. Apesar de parecer pouco, essa área corresponde praticamente aos territórios de Portugal e da Suíça juntos. Os benefícios desses sistemas já são comprovados pela pesquisa. Uma pastagem com baixa produtividade sequestra 182 quilos de carbono, enquanto áreas que adotam a Integração Lavoura-Pecuária juntamente com o plantio direto sequestram 1.273 quilos do gás, ou seja, um resultado sete vezes maior.
Para entender, tanto a importância de cada espécie implantada no sistema como da saúde dos solos, o pesquisador convidou a rainha para descer em uma trincheira implantada na área. Lá, é possível observar a profundidade que as raízes do capim braquiária atingem, aumentando a infiltração de água no solo e a ciclagem de nutrientes, além do sequestro de carbono. “A rainha ficou tão impressionada com a braquiária, com tantos serviços que ela presta, como servir de alimento para os animais, fornecer palhada para o plantio direto, melhorar a qualidade do solo…, que ela perguntou se a braquiária se adaptaria à Dinamarca”, contou Guimarães.
Já o ministro do Clima demonstrou interesse pelo consórcio de culturas. “Ele nos contou que existem algumas iniciativas nesse sentido na Dinamarca, para reduzir o uso de fertilizantes e produzir com mais sustentabilidade, mas nada comparado ao que viram aqui hoje”, completou.
Parceria e cooperação para o meio ambiente
“Esse encontro está sendo muito importante porque sabemos que para mudar e lograr os desafios que temos, em termos de clima e biodiversidade, precisamos trabalhar também com a agricultura. Nós estamos aqui vendo o trabalho revolucionário que está sendo feito aqui na Embrapa Cerrados. É muito inspirador. A partir dessa conversa mais estreita, vamos poder ampliar as oportunidades, tanto para a Dinamarca quanto para o Brasil”, afirmou Eva Pedersen, embaixadora da Dinamarca no Brasil.
A embaixadora informou que seu país assinou um acordo com o Brasil na área de agricultura, envolvendo tecnologia e sustentabilidade. Pedersen disse ainda que o ministro do Clima ficou interessado em uma cooperação com foco na tecnologia de plantio direto.
Para Luis Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), explicou que já existe uma série de acordos com a Dinamarca e esse, assinado durante a visita da rainha, movimentará ainda mais o caminho de cooperação entre os dois países. “O Brasil está estabelecendo boas relações diplomáticas e, naturalmente, esse é mais um caminho que pavimentamos, nesse caso, com a Dinamarca, importante sócio comercial e referência no mundo para vários temas”, informou.
Segundo a presidente da Embrapa, o Brasil ganha ainda mais destaque na pauta ambiental por exercer a presidência do G20 em 2024. Neste ano, a Embrapa Cerrados tem recebido uma quantidade expressiva de visitantes internacionais. A visita da rainha foi a 24ª e já estão agendadas mais duas delegações para este mês. “O mundo está mantendo o foco no Brasil. Além dos encontros do G20, vamos sediar a COP 30, em 2025. A Embrapa Cerrados tem o compromisso de desenvolver tecnologias para uma agricultura mais sustentável e estamos disponíveis para apresentá-las às delegações que vierem a Brasília”, afirmou o articulador internacional da Embrapa Cerrados, Fernando Rocha.
Por Embrapa.