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Produtores rurais plantam florestas e combatem visão de serem vilões do meio ambiente

Quando os primeiros colonos chegaram na região do Araguaia mato-grossense, era preciso abrir a floresta para produzir. O governo, inclusive, por meio de campanhas de colonização, financiava e incentivava a abertura das terras, tornando-as cultiváveis. Foi com este processo que nasceram importantes cidades na região leste de Mato Grosso. 

Algumas décadas depois, alguns produtores estão invertendo o processo e reflorestando as APPs (Áreas de Preservação Permanente), que margeiam rios e nascentes. Mesmo assim, nos grandes centros urbanos do País, o estigma difundido de que o agropecuarista é destruidor do meio ambiente, permanece. Este cenário, contudo, está mudando, graças ao empenho de produtores que conseguem conciliar preservação e produção.

O produtor rural Nédio Goldoni chegou em Canarana-MT no ano de 1976, vindo de Caibi, no oeste catarinense. Para a AGRNotícias ele contou que o governo incentivava, na época, inclusive a derrubada do mato até encostar nos curso d’água, para combater o mosquito transmissor da malária. Em 1983, Nédio comprou a Fazenda Santo Antônio, de 700 hectares, na região do Garapú, propriedade que atua com pecuária (manejo próprio) e agricultura, por arrendamento.

Produtor rural Nédio Goldoni. Ao fundo, mata de reflorestamento.

Margeando sua propriedade, foi construída uma represa que, com a elevação do nível da água, adentrou em suas terras. A pastagem, que antes ficava afastada do curso d’água, se tornou margem. Em 2007, Goldoni iniciou um trabalho de restauro utilizando mudas, sementes e também por regeneração natural, totalizando 13 hectares. Esse trabalho nasceu através de uma parceria do produtor rural com o Instituto Socioambiental (ISA) e a Prefeitura Municipal.

“Com a represa, a área da APP ficou inundada e a água vazou para as pastagens. Inclusive é lei que precisa ser reflorestado 100 metros. É um reflorestamento necessário e bom. Impede que a água entre na lavoura, nas pastagens e não assoreia o rio”, disse Goldoni, que hoje não consegue mais especificar quantas árvores possui nas áreas reflorestadas, tamanho desenvolvimento.

Nessa parceria o produtor entrou com a mão de obra e investimentos, como a cerca, a Prefeitura com as mudas, e o ISA com as sementes e com a assistência. A cada ano foram reflorestados dois hectares. Parte foi reflorestado com lanço de semente (proveniente da muvuca – mistura de sementes de várias espécies), parte com mudas e parte com regeneração natural. “A parte com a semente ficou melhor porque vem muito mais quantidade de plantas. Mas demora mais”, falou Nédio.

Hoje as mudas e sementes que começaram a ser cultivadas há 12 anos se desenvolveram e a vegetação já tomou tamanho de floresta. Nédio diz, inclusive, que a quantidade de animais aumentou muito após o trabalho, com o aparecimento de mais espécies nativas na propriedade. “Se tivesse que fazer de novo, faria, é importante. Eu fico indignado quando o produtor é retratado como vilão do meio ambiente. Muitos distorcem os fatos, falam certas barbaridades que não condiz com a realidade. A maioria quer proteger, quer preservar. A natureza merece isso”, complementa o produtor.

Plantio mecanizado de florestas

Propriedades como o do produtor Nédio Goldoni são exemplo de como o homem do campo preocupa-se em manter uma propriedade dentro dos limites legais e, ainda, de como ele entende a importância de cultivar as margens de represas e nascentes, para manter os recursos hídricos.

O Instituto Socioambiental (ISA), realiza um trabalho de recuperação de áreas degradadas na região Xingu/Araguaia. Em 2007 surgiu a Rede de Sementes do Xingu, que congrega coletores de sementes nativas. O ISA estima que a Rede já fomentou a restauração de 6.000 hectares, sendo que 4.000 foram na região Xingu/Araguaia, a grande maioria em propriedades rurais que trabalham com agropecuária.

A técnica de semeadura direta, quando o produtor literalmente planta florestas utilizando trator e semeadeira utilizados no cultivo de suas lavouras, mostrou-se ser um modelo mais barato, com melhor resultado e abrangendo maiores áreas do que com mudas. As sementes de várias espécies são misturadas no que é chamado de muvuca, antes de serem colocadas nas plantadeiras. Em 12 anos, mais de 220 toneladas de sementes foram utilizadas no restauro.

Para colocar essa floresta em pé, vários atores se uniram em uma causa comum, entre eles o produtor rural, o coletor (em sua maioria indígenas) e o ISA. Para Heber Queiroz, coordenador do ISA em Canarana, além dos ganhos ambientais e econômicos, a união das pessoas foi uma conquista. “Um dos grandes ganhos do trabalho foi unir pessoas com visões de mundo diferentes, mas todos trabalhando em prol do bem comum”, disse Heber Queiroz.

Preparo da Muvuca (mistura de sementes nativas). Foto: ISA.

Viveiro Municipal

As mudas ainda são bastante utilizadas no restauro. Na cidade de Canarana funciona o Viveiro Municipal, mantido pela Prefeitura. Conforme o secretário de Agricultura e Meio Ambiente, Charles Visconti, neste ano a previsão é de produzir 15 mil mudas, que são todas doadas para reflorestamento. A produção varia, mas em média são reflorestados com mudas entre 40 e 60 hectares por ano. “Destruir é coisa do passado. O produtor rural hoje preserva até mais do que a lei exige porque ele entende a importância do meio ambiente”, disse. 

Por AGRNotícias.

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