Pesquisadores defendem plantio tardio da soja em MT, mas alteração ainda preocupa
Um estudo realizado por pesquisadores em 70 lavouras de três grandes regiões produtoras de Mato Grosso aponta redução de incidência de ferrugem asiática e menor uso de defensivos em plantio tardio de soja utilizado para produção própria de sementes. A pesquisa foi realizada com base nos resultados comparados da semeadura de dezembro com a de fevereiro no estado.
Em Campo Verde (MT), o agricultor José Osvaldo de Oliveira destina 5 dos 100 hectares de sua pequena propriedade à produção da própria semente. Desde 2015, o último dia para realizar a semeadura era 31 de dezembro, fato que, segundo o agricultor, gerava dificuldades e perdas.
Plantando até o fim de dezembro, segundo Oliveira, aconteceria o mesmo que há dois anos. “No final de abril, começo de maio, quando a soja está madura para colher, a chuvarada pega e danifica a semente, não tem como aproveitar”, diz ele.
Na safra atual, o Ministério da Agricultura (Mapa) autorizou por meio de uma portaria uma nova data limite para a semeadura de soja: 3 de fevereiro. O novo calendário respeita o período de vazio sanitário da soja, e a produção entre os agricultores só deve ser feita para uso próprio, sem comercialização.
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Essas recomendações, entretanto, não eliminaram a preocupação do setor sementeiro e de outras esferas do poder público. O Ministério Público Federal e o de Mato Grosso expediram uma notificação conjunta a órgãos do governo estadual recomendando a manutenção do calendário do plantio da soja, como estratégia para a prevenção da ferrugem asiática,
De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Sementes de Soja (Abrass), Gladir Tomazelli, a “ponte verde” proporcionada pelo plantio prolongada pode provocar maior incidência de doenças e pragas.
“Vai haver maior aplicação de defensivos. Essa autorização do Ministério possivelmente no futuro seja a causa da diminuição da produtividade, de uma perda de controle daquilo tudo que a gente faz bem feito e aumente o custo”, afirma Tomazelli.
Estudo
Por outro lado, um estudo coordenado por um grupo de pesquisadores especialistas em fitopatologia, em parceria com a Fundação Rio Verde, analisou três safras de soja em Mato Grosso. Foram avaliadas 23 áreas no mês de fevereiro e 43 em dezembro, em lavouras das regiões oeste, sul e médio norte do estado.
De acordo com o relatório final publicado pelo Centro Canadense de Pesquisa e Educação, na Revista científica de Ciências Agrícolas, a semente de soja plantada dentro da nova calendarização estabelecida para o estado apresentou melhor desempenho no campo e exigiu menos defensivos.
Segundo Laércio Zambolim, pesquisador da Universidade Federal de Viçosa que participou do estudo, há campo semeado em dezembro com até 12 aplicações de fungicida, contra um máximo de 5 pulverizações em áreas em que a semeadura foi realizada em fevereiro.
A presença de agente causador da ferrugem também teria sido muito menor com o procedimento efetuado em fevereiro. “O clima [nesse mês] não favorece a multiplicação, e você não tem muita planta no campo. A colheita de dezembro termina em março, com 60 dias o esporo da ferrugem morre, então não tem argumento para dizer que vai haver ponte verde, não há planta viva em agosto nos campos de produção, porque não tem água, chove muito pouco”, relata Zambolim.
Por Pedro Silvestre, Canal Rural.