Pastagens: novo protocolo da Embrapa pode transformar pecuária de corte
A Embrapa desenvolveu um protocolo que contribui para avaliar as oportunidades de intensificação dos sistemas de pecuária de corte a pasto, um dos principais desafios do setor para reduzir os impactos ambientais negativos. A análise de “yield gap” (lacuna de produtividade) permite estimar a diferença entre a produtividade atual e a potencial das pastagens e identificar oportunidades para atender ao aumento projetado na demanda por produtos agrícolas.
Também servirá para apoiar a tomada de decisões em pesquisa, políticas públicas, desenvolvimento e investimento.
A taxa de lotação máxima é alcançada quando toda a forragem produzida é colhida com máxima eficiência, enquanto a taxa de lotação crítica representa a maior taxa de lotação constante que não implica falta de alimentos em algum período do ano. Esse protocolo permite simular a produção do pasto, as taxas de lotação animal e estimar o risco climático associado à disponibilidade de alimentos para o gado.
Segundo Santos, existem lacunas na capacidade de suporte do pasto devido à interação entre clima, solo, componentes vegetais e animais do sistema.
“O método que desenvolvemos permitiu a identificação dos principais fatores que limitam a produção de forragem e a capacidade de suporte do pasto sob diversas condições ambientais e de nível tecnológico, podendo ser aplicado para apoiar políticas e decisões de investimento,” informa.
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Resultados do protocolo
O protocolo foi aplicado nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, abrangendo partes dos biomas Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica. Ele combina métodos para definição de zonas climáticas homogêneas, sistematização de dados primários de clima e solo, definição de cenários de produção, simulação de crescimento de plantas forrageiras a longo prazo, estimativa de capacidade de suporte das pastagens e cálculo da produtividade atual a partir de dados censitários.
Simulações de produção de forragem de longo prazo permitiram analisar o risco climático associado à produção de pastagens nas diferentes condições de clima e solo. Foi possível simular diferentes cenários com níveis variados de adubação nitrogenada e disponibilidade hídrica, identificando tecnologias promissoras para preencher as lacunas de produtividade.
O potencial de intensificação das pastagens no Brasil central foi estimado com base nos indicadores de taxa de lotação máxima e taxa de lotação crítica. O gap médio na taxa de lotação máxima variou de 5,81 a 5,12 unidade-animal por hectare (UA/ha) no cenário potencial, de 4,18 a 2,9 UA/ha no cenário irrigado e sem restrição de nitrogênio, e de 2,73 a 1,43 UA/ha no cenário de sequeiro e apenas com adubação nitrogenada de manutenção.
Planejamento e aplicações futuras
A produção sazonal de forragem impõe desafios aos sistemas de produção a pasto, pois as demandas nutricionais dos animais devem ser atendidas durante todo o ano. “A alta produtividade em uma determinada época não pode ser transferida para alimentar os animais em um período de seca, a menos que se adote algum tipo de prática de conservação de forragem, como fenação e ensilagem,” explica Luís Gustavo Barioni, pesquisador da Embrapa Agricultura Digital (SP) e autor do artigo. A variação da produtividade das pastagens, influenciada pelo clima e combinada com a demanda alimentar, determina a avaliação da capacidade de suporte do pasto.
Os resultados indicaram lacunas de produtividade e oportunidades para a intensificação da produção de gado de corte a pasto, ajudando a orientar políticas públicas e o planejamento da atividade. O protocolo permite sinalizar onde os investimentos em recuperação de pastagens degradadas e intensificação da pecuária a pasto seriam mais promissores, além de indicar a necessidade de políticas de financiamento considerarem o acesso a tecnologias complementares para alimentação dos animais no período desfavorável.
Barioni complementa que a integração lavoura-pecuária é uma alternativa interessante para acompanhar a sazonalidade da oferta de forragem. O método desenvolvido pode ser utilizado pelo produtor rural para melhor planejar a implantação desses sistemas de produção, considerando os períodos de excedente de forragem e épocas de escassez.
O protocolo também pode orientar o seguro rural associado à produção pecuária em pastagens. O déficit acumulado de forragem foi aplicado, por exemplo, no estudo do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a pecuária de corte aprovado pelo Ministério da Agricultura (Mapa).
O Zarc Pecuária visa identificar áreas de menor risco climático e definir as melhores regiões para produção de bovinos em pasto de capim-marandu, no Distrito Federal e em 17 estados. Com isso, é possível verificar a taxa de lotação crítica das pastagens em cada município e os meses com maior risco de falta de alimentos, embasando a oferta de crédito e seguro rural no país.
Por Canal Rural.