Opinião – Resiliência na Crise – Por João Spenthof
A temporada de assembleias do cooperativismo financeiro chega ao fim. Singulares, centrais e confederações terminam de prestar contas a quem mais importa: o cooperado — verdadeiro dono do negócio. Contas aprovadas e novos rumos definidos, é chegada a hora de divulgar esses resultados à sociedade e mercado financeiro.
Como presidente do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop) e cooperativista que sou, com muita alegria constatei que o setor superou as expectativas e atravessou o 1º ano da pandemia de Covid-19 com crescimento acima da média do mercado financeiro. O volume de depósitos garantidos pelo FGCoop alcançou os R$ 252,5 bilhões, alta de 46,36% sobre 2019.
Em 2020, as cooperativas provaram novamente — como na crise de 2008 — que nosso modelo de negócio fica mais forte em tempos de crise. Fato reconhecido pela Organização das Nações Unidas, que declarou 2012 o Ano Internacional das Cooperativas, justamente por reconhecer o papel fundamental que essas organizações tiveram na recuperação das economias dos países após a crise global.
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Essa percepção é corroborada por um estudo da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), de 2020, que revela: cada R$ 1 em crédito concedido pelas cooperativas gera R$ 2,45 para a economia brasileira. A fundação avaliou dados econômicos de todos os municípios do País. Nas regiões onde há uma ou mais cooperativas, o impacto agregado no PIB brasileiro foi de mais R$ 48 bilhões – com o ingresso das cooperativas que ocorreu de 2006 a 2016 -, além da geração de 278 mil empregos e abertura de 2 novas empresas a cada 100 mil habitantes. O cooperativismo incrementa o PIB per capita desses municípios em 5,6%, cria 6,2% mais o trabalho formal e aumenta o número de estabelecimentos comerciais em 15,7%, estimulando o empreendedorismo local.
O compromisso do cooperativismo de crédito com as pessoas ficou mais perceptível em 2020. Vimos bancos comerciais cortarem linhas de crédito, com medo do risco associado ao desemprego e aos impactos da pandemia. Nas cooperativas, o movimento foi contrário! Imbuídos da filosofia de cuidar das pessoas, as cooperativas ampliaram o acesso ao crédito e mantiveram seus índices de inadimplência abaixo dos registrados pelos bancos comerciais. Qual o segredo? Crédito responsável, sob medida para cada associado.
Durante a pandemia, nada disso mudou. Tanto que 20% das operações do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) foram liberadas por cooperativas, segundo o Portal do Empreendedor. Houve aumento de depósitos nas cooperativas. Juntas, captaram R$ 209,56 bilhões em depósitos (excluídos Recursos de Aceites e Emissão de Títulos, exemplo da LCA e LCI), 46,81% superior a 2019. Os bancos tiveram alta de 38,87% no período.
Nos últimos dois anos, as cooperativas abriram 1.095 pontos de atendimentos no Brasil. São 7.238, a maior rede de atendimento financeiro do País. Já os bancos comerciais fecharam 2.368 pontos. Durante a pandemia foram abertas 408 novas unidades cooperativas. A expectativa, para 2021, é de inaugurar outras 400.
Outro movimento importante, no último ano, foi a de abertura de contas digitais e novos canais de atendimento. Apostamos no crescimento “fisital” (físico + digital) da estrutura de atendimento. Para o FGCoop, 2020 foi um ano desafiador, mas fomos resilientes. Atravessamos bem o período, cumprindo as metas estabelecidas, aperfeiçoando os serviços de monitoramento, assistência financeira e garantia de depósitos.
Como presidente do Fundo, gostaria de destacar que os verdadeiros protagonistas do crescimento sustentável do cooperativismo financeiro são as cooperativas e os sistemas organizados. São eles os agentes capazes de fazer o setor continuar a crescer com segurança e a ganhar o destaque que merece no Brasil. Nós, do FGCoop, estamos nos bastidores, atuando preventivamente pelo fortalecimento, solidez e crescimento do setor.
*João Carlos Spenthof é presidente da Central Sicredi Centro Norte, presidente do FGCoop e Vice-presidente da OCB/MT
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