Novas áreas são reflorestadas com semeadura direta
Na bacia do Xingu Araguaia as árvores que protegem os rios e ajudam a garantir água para as futuras gerações também são semeadas diretamente no solo durante a época das chuvas. O trabalho faz parte da parceira do Instituto Socioambiental (ISA) com produtores rurais e organizações da região. Ao todo, seis municípios (Bom Jesus do Araguaia, Barra do Garças, Canarana, Gaúcha do Norte, São Félix do Araguaia e Querência) recebem o plantio de muvuca, o mix de sementes nativas que faz crescer florestas nas áreas que precisam ser protegidas.
Esse trabalho, que existe há 12 anos, já plantou mais de 3 mil hectares e em 2019 o planejamento é de que mais 153 hectares sejam semeados. “É uma atividade que vai de encontro aos interesses dos produtores porque promove a adequação ambiental das propriedades, de forma a mantê-los na legalidade e, principalmente, ajuda na proteção e conservação dos recursos hídricos que são importantes para garantir a disponibilidade de água na região”, explica Lara da Costa, técnica em restauração do ISA.
Este ano mais quatro proprietários rurais se tornaram parceiros do ISA interessados nos benefícios que a semeadura direta traz ao ser aplicada na restauração ecológica. “É uma técnica que tem se mostrado bastante eficiente, com bons resultados em relação ao estabelecimento e quantidade de árvores por área, além do custo benefício”, afirma João Carlos Mendes Pereira, técnico em restauração florestal da Associação Rede de Sementes do Xingu (ARSX), parceira do ISA e fornecedora de sementes utilizadas nos plantios.
“Já bastante difundida em outros países, a semeadura direta tem ganho cada vez mais espaço no Brasil e o Mato Grosso é referência nesse trabalho”, complementa o técnico. A ARSX também é uma iniciativa que nasceu no Estado e tem dado visibilidade para a restauração com sementes. Em 12 anos, mais de 220 toneladas de sementes nativas foram produzidas por uma rede composta por 568 coletores o que consolida a Rede de Sementes do Xingu como a maior do país. Só o ISA esse ano encomendou cerca de 14 toneladas, quantidade suficiente para reflorestar 165 hectares.
Inovações e expansão
Pesquisas e experimentos relacionados ao trabalho da restauração são constantes entre os técnicos do ISA e demais instituições parceiras como a Universidade Federal e Estadual do Mato Grosso (UFMT e UNEMAT), Universidade de Brasília (UNB), Universidade Federal de São Carlos (USFCAR), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a “Iniciativa Caminho das Sementes”, coordenada pela Agroicone, entre outras.
“No último monitoramento, por exemplo, observamos uma grande quantidade de cobertura do solo de feijão-guandu e feijão de porco. Essas sementes agrícolas são utilizadas como adubação verde no plantio e compõem a muvuca junto com as nativas”, conta Guilherme Pompiano, técnico em restauração florestal do ISA. “Então esse ano diminuímos a quantidade em 50% para checar o comportamento da germinação das espécies.”
Por meio da iniciativa, coordenada pela Agroicone, com apoio do ISA e da Partnerships For Forests (P4F), a técnica já tem sido implementada também em outros Estados como São Paulo, onde estão sendo promovidos Dias de Campo para o reflorestamento em usinas. Ao todo são 820 hectares de muvuca em mais de 60 localidades diferentes nos Estado do Mato Grosso, Pará, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás, Distrito Federal, Espírito do Santo e Mato Grosso do Sul. Em Mato Grosso também será implanto plantios com muvuca no Sesc Serra Azul e Pecuária Sustentável da Amazônia (PECSA), de Alta Floresta.
O ISA também iniciou em março deste ano o plantio em áreas no estado do Pará. Marlisson Borges, técnico em restauração da instituição, foi quem realizou o primeiro experimento na cidade de Brasil Novo (PA). “Agora já estamos com mais quatro áreas demonstrativas e 20 famílias de agricultores familiares também coletoras de sementes nativas”, conta Borges.
“A expansão dos plantios demonstra o real comprometimento dos proprietários rurais com as matas ciliares que com isso sabem também que estão criando uma oportunidade de trabalho para centenas de pessoas que moram na floresta, nos assentamentos rurais e até nas cidades e produzem as sementes nativas nas regiões onde se realizam a restauração”, analisa Eduardo Malta, coordenador técnico em restauração florestal do ISA. “Contribuem também para que haja água na propriedade que querem passar para os filhos deles e, de forma geral, para o desenvolvimento regional em termos socioambientais”, conclui.
Fonte e fotos: Tatiane Ribeiro, Rede de Sementes do Xingu.