Em entrevista para a AGRNotícias, analista de mercado Caio Toledo fala sobre o futuro do Boi Gordo
Após um mês em alta, a arroba do Boi Gordo começa a dar sinais de redução nas negociações à vista e futuras. O impacto da alta foi sentido pelo consumidor final da proteína que nas gôndolas do mercado, viu o preço do quilo da carne subir.
O cenário de aparente incerteza, numa época anual de aumento de consumo, gera especulação e certo atrito entre quem produz e quem consome. A AGRNotícias entrevistou o analista de mercado e consultor em Gerenciamento de Riscos da INTL FCStone, Caio Toledo, para entender as razões que levaram a alta, as consequências e como o mercado tende a se comportar futuramente.
AGR – Houve um recente aumento na alta do preço do Boi Gordo, com recordes históricos e preços ultrapassando R$230,00/@. Quais foram os fatores que influenciaram esta alta?
CAIO – Basicamente, o que influenciou esta recente alta foi a demanda interna que deu uma aquecida e a demanda externa que continua em números extremamente altos, principalmente os que tivemos em outubro. Também podemos salientar a falta de oferta que acabou auxiliando um pouco nesse movimentação de alta. Resumindo, esses dois fatores principais, demanda interna e externa, puxadas pelo mercado chinês.
AGR – Quais as principais consequências (cenários) que esta alta traz e já trouxe para toda a cadeia produtiva?
CAIO – A alta dos insumos! Colocaria o preço da reposição, que tem trabalhado com um ágil muito alto sobre a arroba, tanto o mercado a vista quanto futuro. O segundo impacto é o preço do grão; Observamos que o preço do milho tem subido a reboque dessa alta da arroba. Existem mais fatores, é claro, linkados a alta do milho, porém obviamente, o fato da arroba estar valorizada, acaba vindo em conjunto.
AGR – Em meio a especulação de retração do preço da arroba frente o equilíbrio de oferta e demanda, essa alta prevalece ou retrocede?
CAIO – Na minha concepção, o grande drive de mercado hoje, que comanda a arroba, seria a demanda doméstica por carne bovina. Observamos nas duas semanas que tivemos uma boa melhora na demanda interna e isso acabou impactando e auxiliando na alta da arroba. Percebemos que o consumidor brasileiro vai estar mais atento ao preço da carne bovina e já começa a fazer a troca de proteínas {optando por outras carnes}. Acredito que essa alta tem um espaço para reduzir, pára obviamente trazer novamente esse equilíbrio entre oferta e demanda, lembrando que estamos em uma época onde as boiadas devem começar a aparecer. Tivemos um momento de retração do pecuarista, para aproveitar o movimento de alta e agora ele começa a entregar. Tem também um resquício de animal de confinamento e também começa daqui a pouco a entrar os animais a pasto que estavam bem reduzidos nos últimos tempos. Acredito que essa alta não deva ter perpetuidade nas próximas semanas.
AGR – A alta do preço da arroba é tida como uma correção frente a uma defasagem no preço que não ocorria há alguns anos?
CAIO – Obviamente eu acredito que existem alguns pontos a serem colocados. Se a gente falar que o preço do boi estava defasado, nós vamos comparar isso com outras commodities. Então tem duas óticas de observação: Se compararmos com outras commodities, vamos perceber que o preço do Boi Gordo estava defasado. Mas porque estava defasada? Porque a demanda interna por carne bovina estava retraída, uma vez que a economia estava retraída. Como quem manda nesse jogo é a demanda interna, que acabava não pagando a mais pelo boi, porque estava com uma margem muito estreita, o preço pago pela arroba era menor. Já as outras commodities (soja, milho etc.), andam mais parelhas com o mercado internacional, que estava muito pujante nos últimos anos. Agora, se formos olhar em comparação com a inflação, o preço do Boi Gordo tem sim subido de acordo com a inflação.
AGR – Numa perspectiva de cenários, qual outra cadeia produtiva pode ser impactada com a alta?
CAIO – Isso é muito cedo para se colocar. Mas acredito que essa alta pode impactar os mercados de proteínas concorrentes, porque a valorização da arroba acaba auxiliando na alta de outros setores de proteína. E no milho, pode ocorrer algum impacto, mas eu não colocaria como isso sendo o principal fator.
AGR – Como essa alta do Boi atinge/atingiu os pecuaristas em Mato Grosso especificamente? São destoante os reflexos ou mais intensos no Estado, com maior chance de ganhos?
CAIO – Na minha percepção atinge todos os pecuaristas, não só em Mato Grosso. O pecuarista do Mato Grosso tende a aproveitar muito esses movimentos de demanda global por proteína, uma vez que o Estado agora tem algumas unidades frigoríficas habilitadas para exportação para a China. Então aquele pecuarista que produz um animal mais novo, que tem espaço para ir pro mercado chinês, acaba tendo um espaço para maiores ganhos. O estado em si acaba ganhando, uma vez que a exportação de carne, que estava em segundo lugar nos últimos anos, pode ultrapassar São Paulo, como um dos estados que mais produzem carne para o mercado externo. Um Estado que tem oferta de milho abundante e isso pode ajudar o pecuarista nos custos para engorda do animal.
Por AGRNotícias.