Incêndios em palhada de milho trazem prejuízos nas próximas safras
Todos os anos, milhares de hectares de palhadas de milho queimam no Mato Grosso na seca, período que chega a durar até cinco meses, quando ocorre a colheita da segunda safra. Na região do Vale do Araguaia, vários incêndios já foram registrados em 2020, tanto em lavouras prontas para colher, quanto em palhada de lavouras já colhidas.
A AGRNotícias entrevistou o engenheiro agrônomo de Canarana – MT, Pércio Cancian, que falou sobre os prejuízos que os incêndios provocam para o solo e, consequentemente, para as safras seguintes.
Cancian destaca, em primeiro lugar, que o fogo é característico da região do Cerrado no período da seca, sendo benéfico em algumas situações. “Existe a quebra de dormência de sementes de algumas árvores, que só ocorre em altas temperaturas. Isso precisa deixar salientado. Além disso, existe a queimada controlada, que é praticada há muitos anos, utilizada para manejar áreas de aberturas, para rebrota de capim nas pastagens. Nesse caso, o fogo se torna um aliado”, reitera.
Porém, Pércio diz que existem os incêndios criminosos ou provocados por um descuido, podendo se originar até do escapamento de algum maquinário agrícola, queimando a palhada de uma lavoura já ceifada ou mesmo de lavouras prontas para serem colhidas. “Nesse caso, o prejuízo é muito grande para o solo, com consequências físicas, químicas e biológicas”, relata Pércio, demonstrando que queimadas não beneficiam o produtores de nenhuma maneira.
Apesar do fogo trazer alguns benefícios iniciais, como mineralizar e disponibilizar alguns nutrientes, entre eles nitrogênio, fósforo, potássio, cálcio magnésio, que estavam retidos na massa orgânica sobre o solo, os malefícios que vem depois disso são extremamente danosos.
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Prejuízos
Conforme o engenheiro agrônomo, na parte física o fogo prejudica na taxa de infiltração da água, deixando o solo mais suscetível à erosão hídrica ou eólica. Os danos das queimadas para a agricultura variam também de acordo com o tipo de solo, tempo de queimada e intensidade.
Na parte química, nutrientes liberados como o nitrogênio e o enxofre, estão passíveis de volatilização e lixiviação pelo efeito da chuva. “O fogo vai aumentar a disponibilidade de alguns elementos, porém vai favorecer que os nutrientes sejam perdidos no ecossistema e não aproveitados pelas plantas. É uma aceleração dos processos”, explica.
Na parte biológica, existe uma perda na quantidade de matéria orgânica no solo, que é a energia para microrganismos. “Você diminuindo essa comida, culmina com a diminuição da população da mesofauna e a perda da capacidade produtiva do solo”, complementa.
Conforme Pércio, o produtor acaba recuperando isso, mas muitas vezes tem uma perda de produtividade na safras seguintes, acaba tendo que investir fazendo suplementação de nutrientes e leva até quatro anos para recuperar a matéria orgânica do solo da maneira como estava antes de passar pelo incêndio.
Incêndio em Canarana-MT queimou 500ha de palhada de milho
Histórico recente
Nos últimos 30 dias, várias queimadas foram registradas na região do Araguaia, inclusive resultando em grandes áreas danificadas. Em Espigão do Leste, distrito de São Félix do Araguaia – MT, no início de julho, 600 hectares de milho foram queimados. Em Canarana, um incêndio queimou 500 hectares de palhada de milho no dia 15 de julho. O evento mais recente registrado foi em Gaúcha do Norte – MT, no dia 16 de julho, onde uma queimada destruiu um trator de uma fazenda, bem como uma área de palhada e uma área de lavoura prestes à ser colhida.
Por AGRNotícias.