IMA inicia pesquisas para desenvolver variedades de gergelim no Vale do Araguaia
A segunda safra, ou safrinha, tem recebido cada vez mais atenção dos produtores rurais e, para muitos, é a safra que mais traz esperança de lucro a cada ciclo. Na região do Vale do Araguaia, onde as precipitações pluviométricas são menores do que em outras regiões do Mato Grosso, produtores têm investido no cultivo de pulses nos últimos anos, que precisam de menos chuva, principalmente o gergelim, tornado o Vale do Araguaia o maior produtor nacional do grão.
O mercado do gergelim, grão presente na região a quase 30 anos, era uma grande preocupação. Com a chegada de empresas que compram e processam o produto, fazendo contratos antecipados, foi criada uma segurança para os produtores, que investiram mais na cultura. Por outro lado, por ser uma cultura nova no Brasil e com poucas pesquisas, os agricultores sofrem para encontrar a melhor variedade para a região, para optar pelo melhor manejo, para adaptar o maquinário que já está na fazenda, seja para o plantio ou para a colheita.
Em 2019, produtores de gergelim da região de Canarana procuraram o Instituto Mato-grossense do Algodão (IMA), para auxiliar nas pesquisas. O IMA, por sua vez, acionou um de seus pesquisadores, o Dr. Rogério Oliveira de Sá, especialista em melhoramento genético de plantas oleaginosas, para comandar o trabalho. A AGRNotícias, em entrevista com o Dr. Rogério, recebeu o relato de como se darão as pesquisas para essa cultura que ganha cada vez mais espaço no Vale do Araguaia.
Conforme o pesquisador, o IMA trabalhou com gergelim de 2008 a 2012, mas depois disso teve que abandonar as pesquisas para focar nas culturas da mamona e do cártamo, que seriam utilizadas para se fazer rotação e consórcio com o algodão. “Em 2019 houve demanda dos produtores de Canarana, que procuraram a diretoria do IMA e a pesquisa foi reativada”, disse Sá, que já esteve na região e falou que os produtores “estão bem mais avançados no conhecimento que nós tínhamos há oito anos. Já iniciei visitas nas propriedades em busca de conhecimento. Concomitantemente, vamos estar plantando, errando, acertando, olhando e aprendendo”.
Num primeiro momento, a ideia é a produção de variedades derivadas a partir das sementes crioulas da região e, em três anos, ter materiais com alta performance. Atualmente os produtores usam sementes crioulas renovadas da safra anterior. O IMA possui um banco de germoplasma de gergelim armazenado em baixas temperaturas que será importante nessa retomada dos trabalhos. “Como a gente pretende fazer melhoramento e desenvolver cultivares, precisamos de variabilidade genética. Se todos os indivíduos forem de um mesmo genótipo, não se consegue atuar em cima das variações. Vamos reativar o banco de germoplasma que o IMA tem, olhar a variabilidade das variedades que já existem no mercado e fazer um estudo para produção de novas cultivares”.
Além de novas cultivares, o IMA fará pesquisas sobre manejo. Existe demanda sobre o uso de herbicidas pós emergentes para o controle de folha larga. Hoje só tem um produto e o mesmo não é registrado no Ministério da Agricultura. “O IMA vai fazer pesquisas a campo e publicar trabalhos nesse sentido para que o Ministério veja a eficiência do Diuron, porque ele não é registrado para a cultura do gergelim, existindo um problema para a compra deste produto”.
A pesquisa também abrangerá fertilidade, para ver se interfere na produtividade do gergelim e no teor de óleo. “A gente tem informações de quando se aduba muito bem o gergelim, o efeito é contrário, ele vegeta e não produz. Vamos investigar essa questão de fertilidade, para saber até que ponto é benéfico e até que ponto é maléfico”, disse o Dr. Rogério, acrescentando ainda que vai ser pesquisado sobre época de semeadura, população de plantas e a produtividade nas diferentes épocas.
A pesquisa do IMA se dará através de uma parceria com os produtores. O instituto coleta informações, desenvolve cultivares e publica estudos e, em contrapartida, os produtores adquirem as variedades desenvolvidas. “Dos produtores, o IMA precisa de demanda, uma parceria onde ambos ganham. A gente vê esse trabalho como uma parceria, onde o IMA faz a pesquisa e os produtores adquirem as sementes”, finalizou.
Por AGRNotícias.