Gaúcha do Norte sonha com BR-242 para ter primeira ligação asfáltica
Isolada de qualquer ligação asfáltica, localizada geograficamente bem no meio da América do sul, moradores e produtores rurais de Gaúcha do Norte-MT vivem há décadas com a expectativa de uma rodovia com brita e piche. Esse sonho foi discutido na tarde da última quinta-feira, 19, em audiência pública no Sindicato Rural do município, com a presença de Edeon Vaz – diretor Executivo do Movimento Pró-logística, que congrega várias entidades no Estado de Mato Grosso, entre elas a Aprosoja (Associação dos produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso).
Edeon apresentou as propostas de logística em discussão no Estado. Sua visita à região, no entanto, teve como principal objetivo ouvir a população quanto a BR-242, rodovia que corta o Brasil no sentido leste/oeste e que é sonho há anos dos gaúchenses do norte. Na região central do Mato Grosso, a rodovia parte do município de Sorriso e chega até a BR-158 passando por Nova Ubiratã, Santiago do Norte (distrito de Paranatinga) e Gaúcha do Norte. Depois de “Gaúcha”, o traçado ainda não está definido, sendo que há um estudo de rotas entre os municípios de Canarana e Querência.
O trecho que parte de Sorriso até Santiago do Norte já está com asfaltamento concluído. Já os 140 km entre Santiago do Norte e Gaúcha do Norte, não há pavimentação. Se na direção oeste não há ligação asfáltica para os moradores de “Gaúcha”, na direção sul a situação se repete, sendo que nas MTs-129 e 427, que ligam a cidade até a MT-020, com respectivamente 120 km e 70 km, o percurso é todo por estrada de chão. Na direção leste não há rodovias.
Conforme Edeon Vaz, Gaúcha do Norte fica localizada numa região que tem praticamente a mesma distância para escoamento da produção agrícola para os portos do norte, via BRs-158 e 163, e para os portos do Sudeste ou Sul do Brasil.
A população presente na audiência, concordou com a proposta do Movimento Pró-logística, evidenciando a necessidade de focar os esforços atuais para que o Governo Federal coloque no orçamento do próximo ano os recursos para asfaltar os 140 km que faltam entre Gaúcha do Norte e Santiago do Norte, possibilitando uma ligação na direção oeste. Esse trecho tem projeto e todos as licenças necessárias aprovadas.
O impasse no momento, portanto, está na definição do traçado contínuo da BR-242 pela direção leste, partindo de “Gaúcha”, sendo que há pelos menos três propostas em discussão.
PROPOSTA 1
Pelo traçado original da BR-242, onde já há projetos e alguns estudos que foram financiados pela Aprosoja, a rodovia parte de Gaúcha do Norte até a MT-109, interior do município de Canarana, de onde segue para Querência e, de lá, entra na rodovia já asfaltada até a BR-158. Contudo, essa rota ainda não tem estrada aberta em maior parte do trecho. Além disso, os indígenas do Xingu, conforme prevê a atual legislação federal, precisam aprovar esse traçado, tendo em vista que a rodovia passa a menos de 40 km das terras demarcadas.
PROPOSTA 2
Edeon Vaz explicou que no último mês de agosto, representantes do Governo Federal estiveram na região do Xingu e conversaram com as lideranças indígenas locais. Os líderes, na ocasião, apresentaram um traçado alternativo, ligando Gaúcha do Norte a MT-020 através da MT-427. Por essa proposta, são 70 km de estrada de chão até a vila do Culuene, interior de Canarana. De lá a rodovia seguiria pela MT-020 até a cidade de Canarana pelos 90 km já asfaltados e, depois, pela MT-109 até Querência, em torno de 100 km, também sem pavimentação.
PROPOSTA 3
O Movimento Pró-logística apresentou ainda uma terceira proposta, seguindo o traçado original. Seriam pouco mais de 130 km de Gaúcha do Norte até a MT-109 e mais 40 km até a BR-158 na direção de Ribeirão Cascalheira. Nessa proposta, a BR-242 cruzaria a MT-109 a pouco mais de 30 km de distância de Querência e a pouco mais de 60 km de Canarana. Se concretizada, a proposta é asfaltar, posteriormente, a MT-109 em direção a Querência e em direção a Canarana.
EXPECTATIVAS
Os moradores de Gaúcha do Norte presentes na audiência manifestaram interesse que a rodovia siga o traçado por dentro do município, sem adentrar na MT-020, que é também o interesse de representantes de Querência, manifestado em debates anteriores sobre o tema. Já os indígenas e representantes de Canarana, argumentam a rodovia adentrando pela MT-020.
Em entrevista para a AGR Notícias, Edeon Vaz falou que existe o interesse em mudar a legislação atual, que impõem a necessidade de ouvir os representantes indígenas em caso da rodovia com traçado próximo 40 km das áreas demarcadas. No caso das ferrovias, por exemplo, a exigência é de até 10 km. “Nós estamos trabalhando para alterar isso. Se a ferrovia é só 10 km, porque a rodovia tem que ser 40 km? … Estamos trabalhando junto ao Governo Bolsonaro para que seja equalizado isso, o que acaba com o problema que tem hoje o traçado original”, falou.
Enquanto a BR-242 não sai do papel na região, os moradores de Gaúcha do Norte, através de uma Parceria Público Privada, tem como plano asfaltar os 120 km da cidade até a MT-020, possibilitando a ligação em direção ao município de Paranatinga. Os produtores rurais do município sofrem com a falta de asfalto que deixa o município desconexo geograficamente, fazendo com que os insumos cheguem mais caros e a produção saia mais barata, obrigando, muitas vezes, o abandono da atividade.
Da Redação.