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Cotações caem, mas previsão é que cultura do Gergelim cresça no Mato Grosso

Colheita de lavoura de gergelim em Canarana

O município de Canarana-MT se tornou nos últimos três anos o maior produtor nacional de gergelim. A cultura encontrou terras em abundância para segunda safra e clima propício para se desenvolver na região do Médio Araguaia. Com o crescimento da área e preços que viabilizam o cultivo, esse crescimento atraiu várias empresas que compram e exportam o grão.

Quando os primeiros agricultores da região começaram a cultivar gergelim, havia a dúvida de qual o impacto da cultura quanto aos efeitos para o solo e o sequente ciclo da soja. Outro receio era o cumprimento dos contratos e até de uma superprodução, que poderia baixar os preços e inviabilizar a atividade na região. Vários questionamentos surgiram por quem está na cultura e por produtores que planejam entrar.

A AGRNotícias entrevistou o empresário Gustavo Rizzo, da Agroseeds Comércio e Exportação, um dos primeiros compradores do grão em Canarana, em busca de opiniões sobre esses questionamentos dos produtores e de como ele, comprador, entende o futuro deste mercado.

Gustavo acredita que o crescimento da cultura e a vinda de mais empresas foi bom para toda a cadeia produtiva do gergelim, inclusive para ele, mesmo com o aumento da concorrência. “Acredito que na próxima safra o Mato Grosso irá plantar 300 mil hectares de gergelim, sendo que 150 mil somente no Vale do Araguaia. Canarana vai responder por 60% da produção da região. É muito gergelim e precisa de muitas empresas para dar conta de comprar e classificar toda essa produção. Tem espaço para todo mundo”, disse Gustavo.

Ainda não se tem dados oficiais de quanto foi produzido da cultura na última safra. Gustavo acredita que no último ciclo o gergelim pode ter chegado a 75 mil hectares em todo o Mato Grosso, sendo que mais de 60 mil só na região de Canarana. Assim, se o Estado chegar a 300 mil hectares em 2020, será um aumento de 400%, mas ainda assim representará muito pouco da produção mundial.

“Mesmo com esse crescimento, o Brasil vai representar por 2% da produção mundial. Então, os preços são influenciados pela produção externa e não interna. Para que uma superprodução no Brasil influencie os preços a nível mundial, teria que plantar meio Mato Grosso de gergelim”, falou Rizzo. A maior parte da produção nacional vai para exportação.

O gergelim faz parte das culturas chamadas de pulses, como o feijão, e na região do Médio Araguaia passou a ser chamada de ‘cultura alternativa’. Em Canarana, por exemplo, planta-se 250 mil hectares de soja e menos de 90 mil na segunda safra com milho, por conta da janela de chuva que é mais curta que nas outras regiões do Mato Grosso. Assim, o gergelim encontrou terras em abundância para crescer na região. Além do mais, a cultura não aceita chuva no período da colheita, realidade comum no município.

Os primeiros contratos para a próxima safra já estão sendo fechados. Conforme Gustavo, os preços giram em torno de R$ 2,50 o kg, menos que na última safra, que teve recorde na cotação, chegando até a R$ 4,00. Rizzo diz que com os preços em alta, houve aumento da produção a nível mundial, o que fez a cotação cair. A ìndia e a China são os maiores produtores e consumidores do grão. 

Apesar do crescimento da área em Mato Grosso, o empresário acredita que haverá um limite para expansão. Com a instalação de várias indústrias que produzem etanol a partir do milho, essa cultura tem se valorizado no Estado e continuará ocupando a maior parte das áreas na segunda safra, principalmente no principal polo produtivo, o Médio Norte, região de Sorriso. 

A produtividade média do gergelim na última safra na região de Canarana ficou em torno de 500 kg por hectare. “Tem novas variedades entrando no mercado, como o Anahí, da Embrapa, que promete aumentar a produtividade e a qualidade do grão. Acredito que na próxima safra a produtividade suba para 700 kg por hectare. O produtor está aprendendo a trabalhar com a cultura e também fazendo investimentos em adubação”, disse Rizzo. 

Uma das dificuldades ainda encontradas pelo produtor é quanto à colheita. O maquinário utilizado é específico para a soja. Com isso, Gustavo acredita que há uma perda de cerca de 20% na colheita do gergelim. A melhora desses números passa pelo desenvolvimento de máquinas específicas para a cultura.

Outra preocupação dos produtores era quanto à qualidade do solo a partir do gergelim. Conforme Gustavo, a cultura não deixa muita palhada, mas deixa muitas raízes, o que descompacta o solo e não dissemina nematóides. “Todos os produtores com que falei, dizem que onde plantaram gergelim, tiveram aumento na produtividade da soja”, falou.

Produtor vai aumentar 1.250 hectares

O produtor Arnaldo Dickel plantou na última safra 1.450 hectares de gergelim na região do Garapú, interior de Canarana. Em entrevista para a AGRNotícias, ele disse que fechou com uma produtividade média de 740 kg por hectare, com adubação e também passagem de fungicida. Para 2020, se surgirem preços atrativos nos contratos, ele pretende aumentar a área para 2.700 hectares destinados à cultura. Já o milho, que ocupou 1.400 no último ciclo, a princípio vai baixar para 400 hectares. 

“Essa é a minha programação, plantei a soja dentro da janela para poder escolher se planto gergelim ou milho na segunda safra. Hoje minha programação é aumentar a área do gergelim, mas tudo depende do preço dos contratos. Se os preços não forem atrativos, como o milho deu uma subida, eu planto milho. Mas a R$ 2,50 eu ainda acho mais viável gergelim. Porém, cada produtor tem uma realidade diferente, dependendo da terra, da janela de plantio e do investimento”, disse Arnaldo.

Beneficiamento

Com o crescimento do gergelim, pelo menos duas grandes empresas já se instalaram em Canarana e estão construindo armazéns próprios para trabalhar com pulses. A expectativa é que o processamento do grão passe a ser realizado também na região, seja para consumo in natura no mercado interno ou mesmo a produção de óleo, agregando valor à cultura. Já as tradings tradicionais que trabalham com soja e milho, também estão se preparando para adentrar na compra e processamento do gergelim.

Por AGRNotícias.

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