Alta das commodities reflete nos custos de arrendamento em Mato Grosso
Em Mato Grosso, a valorização das principais commodities, como milho e soja, refletiu no custo do arrendamento. Em algumas regiões, o reajuste chega a até 50% nos novos contratos, prejudicando os locatários mais antigos.
O agricultor Gilberto Eberhardt paga dez sacas de soja por hectare arrendado em Lucas do Rio Verde, Médio-Norte de Mato Grosso. Para renovar o contrato de cinco anos, que vence em 2023, precisou negociar com o proprietário e vai ter que desembolsar duas sacas a mais por hectare. Diferença que põe fim nos planos do agricultor de ampliar a área da lavoura na próxima safra. Fui atrás de arrendar novas áreas para aumentar o meu plantio, me deparei com os altos custos de arrendamento variando de 12 a 15 sacos de soja por hectare. É uma dificuldade muito grande de se encontrar áreas boas, além de pagar esse valor alto, temos que fazer investimento em calcário e isso eleva muito o custo”, contou.
O preço de locação de terra também disparou em Tapurah, onde aproximadamente 30% das áreas de cultivo são arrendadas. De acordo com o sindicato rural, o preço dos novos contratos varia entre 12 e 19 sacas por hectare, ou seja, um reajuste médio de 40% a 50% no município. “A preocupação do sindicato dos agricultores é que estão vencendo muitos contratos de arrendamentos e está havendo um verdadeiro leilão, uma procura muito grande e uma oferta cada vez maior e uma pedida cada vez maior, e nós tentamos orientar os nossos associados para não cair nestes leilões, mas é muito difícil neste momento com o produto valendo muito bem”, disse o presidente do Sindicato Rural de Tapurah, Dirceu Luiz Dezem.
Para o diretor executivo da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato), Marcos da Rosa, a forte demanda por grãos e a possibilidade de renda em reais por hectare causa estímulo e aumenta a concorrência por arrendamento no campo. “Isso está atraindo muitas pessoas que não estavam no mercado da produção de grãos. No caso de Mato Grosso, onde 66% da soja estava vendida, isso deixou uma renda mínima para o produtor e ele não conseguiu fazer um caixa que poderia dar uma tranquilidade financeira para seguir na atividade. Então, esses produtores não conseguiram aproveitar os preços e, de repente, o contrato de arrendamento deles estava vencendo e não vão conseguir renovar porque vão existir essas ofertas maiores”, disse.
Segundo Marcos da Rosa, a situação penaliza quem está na terra. “Esses produtores têm as máquinas necessárias para produzir, mas é uma pena, porque esses são os agricultores que fazem a agricultura do estado, do Brasil e estão na atividade há muito tempo. Vão perder o espaço para novos produtores que estão por um momento bom de mercado e pode ser que, lá na frente, quando venham os problemas novamente, essas pessoas não continuem exercendo essa atividade e nós perdemos esse profissional que estava lá no campo e dificultamos a vida deles”, completou.
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O setor produtivo também faz um alerta: a disputa eufórica também pode trazer consequências aos proprietários de terras. “A gente tenta conscientizar aqueles proprietários que arrendam estas terras para que pensem no amanhã. Estão querendo pagar muito e não vai ser mesma coisa, tomara que não aconteça de preços ruins, então a fidelidade com esse arrendatário que até hoje vem plantando, plantou naquelas épocas ruins e aguentou uma renda para esse proprietário de terra. É importante que ele dê um voto de confiança a essas pessoas, não tente explorar agora, dê uma oportunidade daquele que está plantando em cima recuperar o atraso e continuar na mesma área de terra não diminuindo o seu fluxo de caixa”, falou Dezem.
Marcos da Rosa diz que a situação atual não é inédita. “Isso aconteceu em um passado, há cerca de 10 anos, com uma grande procura por arrendamentos e essas pessoas novas que entraram neste mercado já não estão mais. Aquele dono de terra que fez esse arrendamento acabou perdendo aquelas pessoas que chegavam no final da safra todo ano e depositavam o seu arrendamento, então, mais vale você ter segurança de quem conhece do que trazer pessoas estranhas para dentro da sua propriedade e não haver essa estabilidade e acaba trazendo prejuízo para o proprietário da terra, porque há perda de fertilidade, problemas de erosão e o profissional de cada dia que está lá sabe como fazer produção sem trazer prejuízo ao solo, que é um prejuízo diretamente ao proprietário da terra.”
Por Pedro Silvestre, Canal Rural.