Agricultores em Gaúcha do Norte iniciam colheita do milho apreensivos com os preços baixos
O ritmo dos trabalhos da colheita de milho em Mato Grosso segue atrasado em relação à média histórica para o período. Em Gaúcha do Norte, a retirada do grão das lavouras começou com os agricultores apreensivos diante dos baixos preços pagos pelo cereal. Para garantir o equilíbrio entre receita e despesas, tem produtor usando a renda do gergelim para amenizar o impacto no bolso.
Até a última sexta-feira (16) o estado havia colhido 8,35% dos cerca de 7 milhões de hectares semeados nesta temporada 2022/23. A média histórica, de acordo com dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), é de 16,61% para o período.
Com uma lavoura bem desenvolvida e expectativa de boa produtividade, o agricultor Otávio Schuhl comenta que estava otimista com o milho e esperava garantir uma boa renda com ele. Contudo, a queda de preço trouxe preocupação e incertezas.
“O preço está deixando a desejar. Está a cada dia em baixa. Está girando em torno de R$ 27. Não fecha a conta não. O mercado despencou muito rápido e não deu mais tempo de pegar”.
Gergelim e silos-bolsas são a esperança
Para tentar amenizar o impacto da desvalorização do grão na rentabilidade da safra 2022/23 e evitar riscos de perdas na colheita por causa da baixa disponibilidade de armazéns, a estratégia adotada pelo agricultor na propriedade foi a compra de silo-bolsas para guardar o milho.
“Já está comprado. A partir da semana que vem começamos a colocar em bolsão. Vamos acabar embolsando e ver se o mercado dá uma melhorada”, comenta Otávio Schuhl.
O agricultor revela ter comercializado cerca de 30% da sua produção de milho apenas até o momento.
“Vai ter que esperar. Não tem outra saída. Hoje o que está segurando é o gergelim. É a única atividade da agricultura que está tendo preço”.
A produtora Daiana Suelen Volkweis também apostará em silo-bolsas para estocar o milho. Ela comenta que ainda não iniciou a comercialização da produção dos 1,8 milhão de hectare plantado neste ano. Cautelosa, a agricultora pontua que irá esperar a reação do mercado para não ficar no prejuízo.
“[A situação] está tirando o sono. A gente nem sabe se os armazéns vão ter suporte para toda a produção do município. A saída que encontramos foram os silos bags e ficar de olho no mercado, porque está bem instável neste último mês. Todo dia é uma situação diferente. Uma melhora no futuro deve ter, porque a produção não será ruim. É aguardar e ver como negociar. Agora não me parece o momento, porque o custo de produção foi pautado naquele preço de tabela anterior, onde estava tendo milho a cerca de R$ 75. Agora estou com milho a R$ 26”, diz a agricultora.
Cenário atual é desanimador
De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Gaúcha do Norte, Josenei Zemolin, o cenário atual visto no milho é desanimador.
“Como aqui está começando [a colheita], a tendência no forte da safra é baixar ainda mais [os preços]. O produtor com certeza vai ficar com mais déficit desta conta do milho, que inclusive vai produzir bem. Mas, os números não vão fechar a conta. Como a logística de Gaúcha do Norte não é aquela 100% asfaltada, temos muito chão. Então, o produto chega caro e a mercadoria sai daqui barata, por isso para nós é uma dificuldade ainda”.
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A queda nos preços do milho, conforme o agricultor Luiz Bier, não era esperada. “Ninguém esperava um cenário caótico de repente. Aconteceu de uma maneira muito rápida. Pegou muito produtor despreparado. O desestímulo vai acontecer, porque a conta desse ano não fechou e tudo indica que no próximo ano também não fechará. Além de tudo, o produtor tende a guardar milho e ficar descapitalizado, diminuindo o gasto dentro da cidade, diminuindo o investimento também. O dinheiro para de girar dentro do município”.
Falta de armazenamento é problema crônico
Segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Fernando Cadore, a situação só reforça a necessidade da ampliação da capacidade de armazenagem no estado, bem como melhorias nas logística.
“Esta discrepância está ligada a um problema crônico que é a falta de armazenamento e logística no estado. O que ocorre aqui em Gaúcha do Norte com o déficit de armazenagem já é um problema crônico, um problema de longo prazo e quando se tem um ano em que a soja atrasa a saída e a virada de chave demora, nós temos o oportunismo no mercado e obviamente a pressão de compras a preços menores vem e o atravessador acaba ganhando. Então, isso mostra mais uma vez e traz à tona o problema de armazenamento que precisa ser olhado com olhos críticos e precisa ser tratado como soberania e segurança do setor produtivo no nosso país”.
POR PEDRO SILVESTRE E VIVIANE PETROLI, DO CANAL RURAL MATO GROSSO.