Agricultores familiares: os invisíveis do agro
Associados erroneamente à baixa produtividade, os agricultores familiares produzem a maior parte dos alimentos consumidos no Brasil, tanto em quantidade quanto em diversidade. O principal motivo das pessoas subestimarem a agricultura familiar é por não saberem o que determina se um agricultor é familiar ou não.
Para ser considerado agricultor familiar, o produtor rural e sua família tem que possuir ou explorar propriedade rural de até quatro módulos fiscais. Sendo o módulo fiscal uma unidade de medida definida pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e variável para cada município. Em Água Boa/MT, um módulo fiscal corresponde a 80 hectares. Além disso, o agricultor deve utilizar mão de obra majoritariamente da família. Ou seja, pode ter mão de obra terceirizada desde que seja igual ou inferior ao número de membros da família que trabalham na propriedade e que obtenham uma renda bruta anual de até R$ 415.000,00.
Produção da agricultura familiar em Água Boa/MT
Para mostrar a força do agro familiar, a Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer-MT) fez uma análise nos registros de 603 produtores de Água Boa que mostram a produção da agricultura familiar no município. Segundo os dados, no último ano foram produzidos e comercializados mais de 5.000.000 litros de leite in natura, por mais de 150 pecuaristas provenientes principalmente dos assentamentos do município. Os principais destinos são os laticínios Cajes de Nova Xavantina/MT e a Campileite (Cooperativa dos Produtores de Leite) de Campinápolis/MT. Destes, 56 produtores processaram mais de 500.000 litros de leite e comercializaram em forma de derivados (queijos, doces, requeijão, etc).
Uma cultura utilizada pelos pecuaristas, principalmente para alimentação do rebanho no período da seca é a cana-de-açúcar. Aproximadamente 50 pecuaristas mantém um pequeno canavial em sua propriedade para esta finalidade. Também, nas pequenas propriedades foram criados e comercializados mais de 10.000 aves (frango) e 3.000 dúzias de ovos.
Outro registro interessante está na produção de mel. Foram localizados três produtores em Água Boa que comercializam anualmente cerca de 4.000 kg de mel. Já a produção de milho verde no município, conta com aproximadamente 10 produtores que cultivam mais de 15 hectares e produzem ao menos 100 toneladas de milho em espiga por ano.
No setor de frutas, os destaques ficam na produção de banana, onde cinco produtores possuem uma área cultivada de 30 hectares. A produção anual chega a 750 toneladas, com cerca de 21.000 frutos comercializados anualmente por dois produtores em uma área plantada de três hectares. Na produção de hortaliças existem mais de 50 agricultores, que somadas as áreas cultivam aproximadamente 20 hectares de horta. Eles produzem uma vasta diversidade de produtos (folhosas em geral, tomate, pepino, abóboras, maxixe, rabanete, etc).
No município, a produção de mandioca diminuiu bastante neste último ano. Ainda assim foram registrados 12 produtores com uma área de oito hectares e produção média de 120 toneladas da raiz em 2019. Em Água Boa, há também quatro produtores de farinha que produzem cerca de 1.000 kg do processado anualmente.
No agronegócio familiar existe uma vasta gama de produtos que acabam não sendo registrados (como doces, panificações, embutidos, banha), pois a família produz com intuito de autoconsumo e vende apenas o excedente, não considerando essa riqueza de produtos como parte de sua produção. Como exemplo, tem-se o cultivo e produção de cúrcuma (açafrão-da-terra) por produtores no P.A. Serrinha e que quase ninguém tem conhecimento.
Dificuldades encontradas pelos agricultores familiares
O município de Água Boa possui um potencial imenso para produção de praticamente todos os cultivos e criações, porém ainda é pouco explorado. Os principais motivos relatados pelos produtores que impedem uma melhor produção e investimento são: 1) dificuldade de contratação de mão de obra, já que a atividade das pequenas propriedades é feita majoritariamente de forma braçal; 2) dificuldade para escoamento e comercialização de seus produtos, pois muitos produtores residem longe da cidade e também não conseguem fechar acordos de entregas no comércio local, ficando a comercialização por conta da venda em feira ou de forma direta aos consumidores; 3) falta de recursos financeiros para investir na propriedade; 4) falta de oferta de produtos destinados para as pequenas propriedades e suas atividades, já que o foco principal das lojas agropecuárias da região são as grandes propriedade. Outro grande entrave de comercialização é a falta do Selo de Inspeção Municipal (SIM) para os criadores de animais, que sem o selo não podem abater e comercializar a carne.
Melado agrega renda para agricultores de Água Boa/MT
A agricultura familiar em Água Boa ainda tem muito a se desenvolver. O que hoje é produzido, não supre a demanda do município. Assim, é necessário adquirir produtos de outras localidades, como por exemplo maior parte dos produtos hortifrúti comercializados em Água Boa vem de Goiânia – GO.
Para alcançar bons resultados os produtores interessados podem procurar a Empaer-MT que presta assistência técnica de forma gratuita, faz projetos para captação de crédito rural, dispõem de um núcleo de laboratórios de análises agropecuárias (solo, foliar, fitopatológica, ração, animal) a um preço reduzido, assessora os produtores na aquisição de serviços e insumos necessários para desenvolvimento das atividades rurais, ministra cursos e palestras, entre outras atividades.
Por Alison Lucas Lorenzon (técnico em agropecuária, engenheiro agrônomo e extensionista rural na Empaer-MT em Água Boa), com redação AGRNotícias.