Agricultores de MT enfrentam perdas nas lavouras de milho devido a presença da cigarrinha
Os agricultores do município de Santa Rita do Trivelato (MT) estão enfrentando perdas significativas diante da dificuldade para controlar a cigarrinha do milho, inseto vetor de patógenos causadores do enfezamento na planta. A presença da praga foi potencializada pela ‘ponte verde’, decorrente do cultivo do milho na safra de verão.
Na fazenda do produtor rural Vilmar Piazza, foi realizado o investimento em adubação de sementes de alto potencial produtivo e em todo o tratamento da cultura. Apesar disso, devido ao enfezamento pela cigarrinha na produção, o produtor não conseguiu atingir as expectativas, que era a produção de 150 sacas por hectare.
“Ainda não quantificamos, mas acredito que já está comprometida em torno de 20% a 30% da produção. Agora não tem mais porque fazer aplicações,o prejuízo já está instalado. É o talhão inteiro. São aproximadamente mil metros deste talhão e foi de fora a fora”, conta o agricultor frustrado.
“Ponte verde” intensifica presença da cigarrinha
Segundo Vilmar, sua propriedade ficou exposta a presença do inseto na segunda safra, proporcionada pela “ponte verde”, devido ao cultivo “fora de época” na propriedade vizinha, que acabou criando condições para a maior presença da cigarrinha no campo.
“A praga já estava estabelecida, e quando entramos com o milho safrinha ela estava no auge da infestação. Mesmo tendo usado a tecnologia adequada, não conseguimos controlá-la de forma definitiva. Essa safra de verão contaminou não só a minha lavoura, como a de outros vizinhos. Está tudo contaminado”, explica Vilmar.
O enfezamento é uma doença causada por microrganismos, conhecidos por ‘molicutes’, que infectam as plantas e comprometem a absorção de nutrientes, reduzindo o potencial produtivo. A transmissão é feita pela cigarrinha, que se contamina ao sugar a seiva de plantas que estão doentes.
Outro produtor rural da mesma região, Giovanni Piazza, também viu sua lavoura de milho que cultiva com o pai ser prejudicada pela cigarrinha. A infestação acabou comprometendo a previsão da colheita de 140 sacas por hectare, causando preocupação para conseguir cobrir os compromissos que foram feitos.
“Esse material foi plantado no final de janeiro e já estava com um índice alto de cigarrinhas. Os compromissos são preocupantes, vamos fazer o possível para tentar conseguir cobrir, mas na próxima safra já vai ter que rever, repensar a área de ser plantada de milho, ainda mais se tiver área verão do lado”, conta o produtor.
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Riscos causados pelas plantas tigueras
Além disso, a proliferação de plantas tigueras nas áreas colhidas de milho verão, também é um motivo de preocupação dos produtores. Elas podem servir de refúgio ao inseto, sendo assim, oferecem riscos ao cultivo da segunda safra.
“E também não é só o fato de ter plantado em uma época que não é adequada, os cuidados não foram levados a sério. A falta de cuidado na hora da colheita resulta nisso aí, que agora vai ficar até o final do ciclo dessa tiguera como hospedeiros para essas pragas e não só pra cigarrinhas, como também para percevejos e outras pragas que são de difícil controle”, destaca Vilmar Piazza.
O engenheiro agrônomo Naildo Lopes explica que a legislação permite que o produtor realize o cultivo durante todo o ano, mas que deve ser levado em consideração o manejo adequado das pragas, para que não prejudique a plantação do vizinho.
“Existe uma legislação, onde ele pode plantar o ano inteiro. Mas precisa ter a certeza, que se estou plantando em uma época, em que eu posso fazer um bom controle das pragas, para que eu não possa levar essas pragas para os meus vizinhos. Eu tenho que fazer um manejo adequado, e tentar segurar o máximo possível a proliferação dessas pragas, para que eu não possa afetar os vizinhos. Ela vai se multiplicando, e só com produtos químicos não vai resolver o problema”, explica o engenheiro agrônomo.
Comprometimento e fiscalização
O vice-presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Lucas Costa Beber, destaca a importância do comprometimento com o plantio da primeira safra, para que não prejudique outros produtores da região e até mesmo do estado.
“O produtor não pode fazer esse plantio e deixar essa lavoura mal cuidada, para que possa prejudicar diversos produtores, na sua região e até mesmo na totalidade do estado. A Aprosoja tem trabalhado para fazer a campanha pré-destruição do milho tiguera, principalmente nessas áreas de milho de primeira safra que recebem várias chuvas após a colheita, várias sementeiras de plantas tigueras, onde multiplicam essas cigarrinhas já contaminadas. Colocando em cheque, principalmente a lucratividade e a sustentabilidade do produtor”, destaca o vice-presidente.
Diante disso, o vice-presidente também defende uma ação conjunta entre os produtores do estado, a partir de uma fiscalização junto ao Instituto de Defesa e Agropecuária de Mato Grosso (Indea-MT), com a finalidade de erradicar a praga no campo.
“É importante que o produtor rural faça um laudo agronômico e realize uma denúncia no Indea, para fiscalizar essas áreas e que não fique multiplicando essa praga. Além disso,envie para a Aprosoja esses dados para embasar o Ministério da Agricultura e se necessário, criar um vazio sanitário aqui dentro do estado”, pontua.
Por Pedro Silvestre e Alexia Oliveira, Canal Rural.