Opinião – Ferrogrão: do sonho à realidade – Por Miguel Vaz Ribeiro
A Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) finalmente protocolou o projeto de concessão da EF-170 no Tribunal de Contas da União (TCU). Este é o projeto da tão sonhada Ferrogrão, a ferrovia que fará a ligação entre o Sinop (MT) e Miritituba (PA). Ao assinar o projeto de estudos técnicos, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas disse que “a Ferrogrão é o projeto de infraestrutura mais ambicioso da história recente brasileira”. Com razão, a ferrovia é a realização de um sonho do setor produtivo nacional e, em especial, de Mato Grosso.
Considerada estratégica, a obra irá consolidar o novo corredor ferroviário de exportação do Brasil pelo Arco Norte, sendo um dos pilares do projeto de transformação da matriz de transporte de cargas no Brasil. Atualmente, apenas 15% da carga brasileira é transportada por este modal. O objetivo do atual governo federal é ampliar esse número para 30% nos próximos anos.
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A ferrovia promoverá uma transformação no escoamento da produção agropecuária do estado. Hoje, mais de 70% da safra mato-grossense é escoada pelos portos de Santos (SP) e de Paranaguá (PR), a mais de dois mil quilômetros de distância da origem. Isto significa um custo elevado com transporte, que impacta diretamente no valor das commodities, nos ganhos do produtor, na geração de empregos e na arrecadação de impostos, tornando a produção agropecuária mato-grossense extremamente onerosa.
O transporte ferroviário possui diversas vantagens que o tornam essencial para a logística de cargas de um país continental como o Brasil. Entre as vantagens estão a capacidade de carga dos trens, menor custo em grandes distâncias, maior segurança em relação ao rodoviário, menor frete, entre outros fatores. As estimativas são de que a ferrovia irá baratear o frete no estado em 40%, o que colocaria a soja brasileira em condições de competir com a norte-americana. O que de suma importância, uma vez que o Brasil recuperou o título de maior produtor mundial da oleaginosa.
Com 933 quilômetros de extensão, a Ferrogrão prevê investimentos iniciais no valor de R$ 8,4 bilhões. O projeto ainda contempla os ramais de Santarenzinho, entre Itaituba e Santarenzinho, no município de Rurópolis (PA), com 32 quilômetros, e o ramal de Itapacurá, com 11 quilômetros. O início das obras está previsto para o primeiro semestre de 2021. Os vagões poderão levar milho, soja e farelo de soja, com capacidade para transportar também óleo de soja, fertilizantes, açúcar, etanol, DDG de milho, algodão, carnes e derivados de petróleo.
Sendo uma das principais áreas de produção de grãos e proteína animal do mundo, Mato Grosso já não podia mais esperar por esta obra. Produzimos nada menos que 9% da soja mundial, 70% do algodão brasileiro e somos o segundo maior produtor de etanol do país, caminhando para dobrar a produção do biocombustível em dois anos. Este ano, vamos bater recordes de produtividade de cereais e algodão novamente. Temos o maior rebanho bovino do país, além da criação de suínos e aves.
A ferrovia também cumpre seu papel na preservação ambiental. A estimativa é de irá retirar um milhão de toneladas de CO2 da atmosfera com substituição do transporte rodoviário. O novo modal também aliviará as condições de tráfego na BR-163, diminuindo o fluxo de caminhões pesados e os custos com a conservação e a manutenção. A construção da ferrovia prevê a geração de 13 mil postos de trabalho durante a fase de obras. Uma injeção empregos no país muito bem vinda neste momento.
Principal meio de transporte de pessoas e cargas do Brasil até 1960, as ferrovias foram praticamente abandonadas desde então, mas nunca deixou de ser um sonho dos mato-grossenses, que começou a se tornar realidade com a chegada dos trilhos a Alto Araguaia e Rondonópolis e se consolida a partir da Ferrogrão. A boa infraestrutura de um sistema de transporte de um país influencia no seu desenvolvimento econômico. Um país que possui alta densidade de infraestrutura, de logística e redes altamente conectadas são os que possuem maior índice de desenvolvimento. Finalmente estamos caminhando neste trilho.
*Miguel Vaz Ribeiro é produtor rural, empresário e membro do conselho executivo da Fiagril.
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